sábado, 12 de janeiro de 2013

Baobás!



"Conheci um planeta habitado por um preguiçoso. Havia deixado três arbustos. . ."

A ilustração acima é do livro "O Pequeno Príncipe", um dos meus livros preferidos. Recomendo fortemente sua leitura. Não se deixem enganar, pensando que se trata de um mero "livro para crianças". Para entendê-lo bem, é preciso saber ler nas entrelinhas...

Essa passagem é interessante porque, através da narrativa de uma "luta" entre o Príncipe e os baobás, que sempre ameaçam tomar seu pequeno planeta, o autor nos faz pensar a respeito de defeitos que, se não combatidos, podem dominar nossa vida.

Maus hábitos que todos tempos; cada um conhece - ou não - os seus. Podem até permanecer quiescentes por um tempo, mas não tardam em vir à tona. Cabe a nós a vigilância e o combate.

E por que, depois de mais de um ano sem postagens, escolhi justamente esse tema?

Porque estava pensando a respeito do péssimo hábito que tenho de adiar o que quero fazer. Quantas e quantas vezes veio aquela vontade de escrever e eu a rejeitei com um "depois"...

Essa pequena palavra se tornou, para mim, uma grande ameaça... "Depois" é quase um sinônimo para "nunca". A tarefa relegada a segundo plano frequentemente cai no esquecimento e o que poderia ser uma boa ideia se perde num turbilhão de pensamentos. Triste, não?

Por isso, resolvi escrever. Para me lembrar deste "baobá" que silenciosamente cresce, e que deve ser combatido sem descanso.

Confesso que não sei se, quando estiver voltando cansada de um plantão, conseguirei escrever. Quando volto para casa, relembrando os momentos vividos no hospital, vêm-me tantas ideias! Tantos textos que gostaria de partilhar e... Perdidos!

Não vou andar em círculos, ao redor da minha decepção por perder ideias... Termino esse texto com um apelo para que cada pessoa que ler - se houver algum leitor! - reflita sobre seus "baobás". Você cuida em arrancá-los ou deixa que eles o dominem?

Que Deus nos ajude nessa luta ;)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cinco pães e dois peixes... ou: Sentimento do mundo

Hoje eu percebi que o Evangelho e a poesia podem ter muita coisa em comum...

"Tenho apenas duas mãos

e o sentimento do mundo"

 (Carlos Drummond de Andrade)


"Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão que vinha ter com ele e disse a Filipe: Onde compraremos pão para que todos estes tenham o que comer? Falava assim para o experimentar, pois bem sabia o que havia de fazer. Filipe respondeu-lhe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pedaço. Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe: Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes... mas que é isto para tanta gente? Disse Jesus: Fazei-os assentar. Ora, havia naquele lugar muita relva. Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil. Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto queriam. Estando eles saciados, disse aos discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca. Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram, encheram doze cestos." (João 6, 5-13)


Por que juntei esses dois excertos, aparentemente tão desconexos?

Porque, mais de uma vez, senti-me como o poeta... Não sei se acontece com vocês também, mas eu já me peguei pensando no mundo, tão cheio de dor, de injustiça, miséria, violência... Aí, surge aquela vontade de fazer a diferença, ainda que não saiba bem como poderia concretizar essa ideia. Quando começo a me entusiasmar, porém, lembro-me de minha pequenez, de meus defeitos... E dos problemas que me propus, ainda que momentaneamente, a enfrentar. Desanimo... Mas a inquietação permanece.

Por outro lado, quando lembro desse trecho do Evangelho, imagino a coragem do menino, para se aproximar dos apóstolos e oferecer seus pobres pãezinhos. Ele poderia muito bem ter pensado que o que tinha era nada diante da multidão. Que não adiantaria ceder seu lanche, e que era melhor comer sozinho, do que dar os pães e ser apenas mais um faminto.

Aí, me pergunto: se Jesus fez isso com cinco pães e dois peixes, o que Ele não poderá fazer com minha vida? Sim, se Ele foi capaz de alimentar tantos com tão pouco, Ele pode evitar que minha vida seja simplesmente "tão pouco". Com Jesus, o pouco torna-se muito! Essa percepção me enche de esperança, pois um novo horizonte se descortina diante de mim. Antes, eu tinha "apenas duas mãos", e pouco podia fazer com elas. Agora, tenho Jesus, que do meu pequeno nada fará um milagre!

Todavia, as coisas não são assim tão simples... Para que esse milagre aconteça, para que haja a "multiplicação da vida", é preciso ter a coragem de dar tudo a Jesus. E isso implica fazer renúncias, aceitar sofrimento, ter uma parcela da Cruz. Estou pronta para isso? Ou estarei fadada a viver triste, apenas com "duas mãos e o sentimento do mundo"?

domingo, 1 de janeiro de 2012

Vai ser diferente!

Hoje me perguntaram por que as pessoas dão tanta importância à virada de ano. Confesso que, na hora, não soube o que responder. Por um instante, pareceu-me sem sentido toda essa movimentação em torno do tempo, e toda a esperança que, nesta época, parece se difundir com mais intensidade. Por que tantas listas de promessas, se no dia primeiro continuamos as mesmas pessoas, com os mesmos defeitos?  Por que tanta festa, se mundo não ficou melhor porque a data mudou?

Eu sempre fiz listas com propósitos, e estes foram esquecidos à medida que o ano avançava. O otimismo dissolvia-se na fadiga diária. No fim das contas, nada mudava. Para 2012, por puro descuido, não fiz lista alguma. Entretanto, pensando a respeito de minha vida, especialmente dos acontecimentos do ano pregresso, vi quanta coisa fora de lugar. Uma verdadeira bagunça interior. E tomei uma decisão: vai ser diferente!

Não, não estou tentando me convencer que, de uma hora para outra, vou mudar - à força de palavras. Eu pensava assim, mas percebi que não dava muito certo. Sou muito ligada à "palavra", sempre gostei de me expressar através dela. Mas isso tem seus problemas. Percebi que, de tanto falar e escrever, fazia muito pouco. Obviamente, escrever e fazer não são se excluem, mas no meu caso, achava que escrever o propósito, por exemplo, era meio caminho andado. E não é, por isso que quase nunca dava certo.

Parece bobagem, mas finalmente percebi que a mudança deve ser contínua: as decisões devem ser renovadas  a cada dia, em vez de ficarem aprisionadas em uma lista, fora da realidade. "A cada dia basta seu cuidado", disse Jesus. É assim que quero viver. Não posso mudar tudo de uma vez só (bem que eu gostaria!). A luta deve ser diária. Para sobreviver, a esperança deve dar às mãos à perseverança.

Olhando agora para um calendário, um ano parece muito tempo. Lembrando-me de como 2011 passou rápido, parece um instante. Esse paradoxo se deve, em parte, à agitação de nossa época, mas não posso colocar a culpa na "correria da vida", eximindo-me de qualquer participação nesse fenômeno. Reconheço que perdi muito tempo.

Mas, acredito que vai ser diferente. Não, não quero dizer que vou aproveitar bem este ano. Não. Vou aproveitar bem este dia. Só hoje. Só por hoje, vou amar mais e reclamar menos. Só hoje, vou fazer mais e falar menos. Só hoje vou passar menos tempo no facebook! Afinal, eu não aguentaria  fazer isso por um ano inteiro, mas um dia... É, acho que consigo!

Que Deus abençoe este ano, e que Maria seja nossa companheira nesta caminhada, ensinando-nos a usar bem o tempo precioso que o Senhor nos concede. Feliz Ano Novo!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O último plantão... Por enquanto!

Hoje cheguei em casa com sono, por volta das 06:30. Voltava de meu último plantão de obstetrícia, pelo menos por enquanto. A noite fora tranquila. Poucas gestantes, algumas cesarianas, nenhum trabalho de parto muito avançado. Não fiz nada de "especial"... Apenas examinar as pacientes, conversar com elas, tirar-lhes as dúvidas. Tudo tão simples, e ao mesmo tempo tão importante: ainda que de maneira breve, eu fiz parte de suas histórias, em um momento tão marcante quanto a gravidez.

Agradeço a Deus por estes meses de estágio, no qual eu aprendi muito mais do que obstetrícia. Ao longo desses meses, vi mulheres sorrindo aliviadas, depois de horas de dor intensa. Seu filho havia nascido, agora tudo - ou quase! - estava bem. As experiências das pacientes me fizeram repensar minha própria vida...  Aprendi, com elas, a esperar, a ter paciência e esperança. Aprendi que a dor e o esforço valem a pena, quando o objetivo é nobre. Lições que levarei comigo.

Olhando um pouco para esses seis meses, rapidamente revivo emoções. A decisão de fazer a prova, a inscrição feita no último dia (uma sexta-feira; saí mais cedo da aula de dermato para ir de carona, pois sequer sabia chegar no hospital!). O ritmo acelerado de estudos: rever o conteúdo de obstetrícia em 10 dias, resolver mais de 500 questões! (Sim, prejudiquei-me um pouco em outras matérias e tive que tirar o atraso depois, mas tudo tem seu preço!)

Depois, a indignação com a prova: tanto estudo para acertar tão pouco! E o choro por causa de um resultado que ainda não tinha saído, a frustração por algo que sequer aconteceu... Então, a surpresa da aprovação: saí da aula para pular no corredor, pois não pude me conter de alegria!!!! Sim, muita gente me chamou de exagerada por fazer tanto drama e acabar sendo aprovada; agora, todo mundo duvida quando digo que não gostei de uma prova!

Mas essa ainda era a primeira fase, então fui atrás de pessoas que conheciam a prova prática, peguei dicas com amigos, fui treinar no HC. Fiz a prova. Gostei. :)

Foram tantas experiências que não dá para colocar tudo em um texto sem que ele fique demasiadamente longo... Ressalto apenas a ansiedade e insegurança do primeiro plantão: sentia-me perdida! Em contraste, ontem eu estava tranquila, olhando tudo com certa nostalgia.

Agora, respiro aliviada. E feliz. Eu, tão inconstante que sou, consegui terminar o estágio! Parece pouco, mas para mim é uma vitória. Pensei que não iria aguentar quando chegassem as provas, mas fui. Pensei em faltar quando estava muito cansada, mas fui. Pensei em deixar para lá quando tudo me pareceu repetitivo e sem graça, mas... Fui! E valeu a pena.

Hoje, descendo as escadas, pensando: "a última vez que faço isso"... Eu estava tão leve! Acho que experimentei, em escala muito menor, claro, a sensação de dar o último plantão como estudante. Estava tão contente, tão leve que... Tive que subir de novo, às pressas! Tinha esquecido de pegar o carimbo do médico, comprovando que eu realmente estive no plantão. Essa leveza toda devia ser sono mesmo!

Agora, é só aproveitar as férias e rezar para que 2012 seja um ano ainda mais abençoado.
Maria, passa na frente!!!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um ano de blog!

Escrevi bem menos do que gostaria, mas bem mais do que imaginava! Nem eu acreditava que ia passar tanto tempo com um blog... A correria, mencionada há exatamente um ano, continuou presente. Fez-me perder inspirações de textos, momentos de descanso, e - lamentável! - a paciência.

Reconheço minha parcela de culpa. Por um lado, sobraram conteúdos a estudar, provas, plantões e tantas outras atividades. Por outro, faltou organização de minha parte, pois em várias ocasiões, deixei as coisas para a última hora. Nada mais tenso do que terminar às 3h da madrugada, para acordar às 7h e fazer uma prova. Sim, isso aconteceu!

Espero sinceramente ter mais disciplina a partir de agora, pois senti na pele que esse tipo de atitude só faz mal. Acho que aprendi a lição (espero). Aliás, espero que tenha aprendido bem todas as lições que me foram ensinadas neste ano. Às vezes, acho que sou um caso perdido, mas... Enquanto há vida, há esperança! E penso em Jacques Fesch.

Agradeço a todos que, de alguma forma, participaram deste blog. E isso vai desde aqueles que convivem comigo às grávidas do plantão. As inspirações nascem desse dia-a-dia. E, claro, aos leitores. Vi que o número de "seguidores" cresceu, e isso me alegra. Peço desculpas por não postar tão frequentemente quanto eu gostaria, eu também não gosto de blogs que nunca atualizam. Tentarei ser mais assídua. Sério.

Agradeço a Deus, pois Ele também participou do blog! Ele sempre está presente, ainda que de maneira silenciosa. E não poderia deixar de agradecer a Maria - minha maior descoberta em 2011. Em outro post explico o porquê... Só adianto que descobrir sua presença materna deixou meus dias ainda mais felizes!

Bem, por enquanto é isso!! Agora, fica a pergunta: será que chego aos dois anos de blog? Só o tempo dirá...

domingo, 4 de dezembro de 2011

Eu e as gestantes :)

Finalmente de férias!!! Tecnicamente, pois ainda tenho uma prova... Mas, como essa só será no dia 13, e as aulas já acabaram, posso desfrutar do prazer de aproveitar um domingo sem pensar na prova da segunda!
Esse último mês foi atarefado: provas, muitas provas. E trabalhos. Nossa, ainda bem que já passou!

Senti falta de escrever; faz mais de um mês que passo por aqui. E não foi por falta de inspiração, o problema foi o tempo mesmo. Na última quarta, eu estava no plantão, tentando dormir... E não conseguia. Tão extenuada por tudo, e nada de pegar no sono. Detalhe: eu estava doida para escrever. O texto estava dentro de mim, pedindo para ser escrito.

Lembrei-me das gestantes que tinha atendido: elas sempre falam que ficam querendo dormir, e o bebê, movimentando-se, não as deixa descansar. Com as devidas proporções, senti-me assim... O texto revirando dentro de mim!

Vou começar a colocar as ideias em ordem... E recomeçar a escrever.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vamos ao combate! ou: Em guarda!

Hoje fui ao cinema. Assisti a "Os Três Mosqueteiros". O enredo era bom, a trilha sonora, idem. As atuações foram ótimas. As lutas de espadas... Deu para perceber que gostei mesmo. Realmente vale a pena. Saí da sala pensando na nobreza e coragem dos personagens. E fiquei imaginando como seria emocionante viver como eles. Lutas, perigos, aventuras...

Foi aí que me dei conta de que só não vive assim, quem não quiser. Uma vida cômoda, parada, "mais ou menos" se nos oferece a cada instante. Mas, na verdade, estamos imersos na maior batalha de todas: a luta pelo Ceu.

Somos atacados constantemente por tentações, ilusões e distrações que, se não nos conseguem fazer desertar, pelo menos enfraquecem os nossos golpes e nos ferem.

Pertencemos ao exército de Jesus, e nossa grande General é Maria. Cada vitória sobre o pecado, cada tentação superada é uma vitória, é um inimigo morto. Cada pessoa que atraímos para Deus é uma "cidade" conquistada para Nosso Senhor.

Todavia, para que bem combatamos, precisamos estar fortes, bem treinados, com as armas bem cuidadas. É aí que entram a oração, as boas leituras, a prática das virtudes e, sobretudo, a Eucaristia. Tão bem equipados, estamos prontos para o combate. É hora de dar tudo. Mesmo cansado, mesmo sentindo dores, continuar lutando. Até o fim. Sempre fazendo o maior estrago possível nas hostes adversárias.

Se formos feridos, recorramos à Confissão, bálsamo que nos recobra a saúde. E retornemos à batalha. E, um dia, quando fecharmos os olhos aqui, abri-los-emos no Ceu. Receberemos, então, a coroa da glória, prêmio de tantas lutas vencidas e, com ela, a felicidade eterna.

Quem disse que a vida não é uma aventura? Em guarda!