quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cinco pães e dois peixes... ou: Sentimento do mundo

Hoje eu percebi que o Evangelho e a poesia podem ter muita coisa em comum...

"Tenho apenas duas mãos

e o sentimento do mundo"

 (Carlos Drummond de Andrade)


"Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão que vinha ter com ele e disse a Filipe: Onde compraremos pão para que todos estes tenham o que comer? Falava assim para o experimentar, pois bem sabia o que havia de fazer. Filipe respondeu-lhe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pedaço. Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe: Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes... mas que é isto para tanta gente? Disse Jesus: Fazei-os assentar. Ora, havia naquele lugar muita relva. Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil. Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto queriam. Estando eles saciados, disse aos discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca. Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram, encheram doze cestos." (João 6, 5-13)


Por que juntei esses dois excertos, aparentemente tão desconexos?

Porque, mais de uma vez, senti-me como o poeta... Não sei se acontece com vocês também, mas eu já me peguei pensando no mundo, tão cheio de dor, de injustiça, miséria, violência... Aí, surge aquela vontade de fazer a diferença, ainda que não saiba bem como poderia concretizar essa ideia. Quando começo a me entusiasmar, porém, lembro-me de minha pequenez, de meus defeitos... E dos problemas que me propus, ainda que momentaneamente, a enfrentar. Desanimo... Mas a inquietação permanece.

Por outro lado, quando lembro desse trecho do Evangelho, imagino a coragem do menino, para se aproximar dos apóstolos e oferecer seus pobres pãezinhos. Ele poderia muito bem ter pensado que o que tinha era nada diante da multidão. Que não adiantaria ceder seu lanche, e que era melhor comer sozinho, do que dar os pães e ser apenas mais um faminto.

Aí, me pergunto: se Jesus fez isso com cinco pães e dois peixes, o que Ele não poderá fazer com minha vida? Sim, se Ele foi capaz de alimentar tantos com tão pouco, Ele pode evitar que minha vida seja simplesmente "tão pouco". Com Jesus, o pouco torna-se muito! Essa percepção me enche de esperança, pois um novo horizonte se descortina diante de mim. Antes, eu tinha "apenas duas mãos", e pouco podia fazer com elas. Agora, tenho Jesus, que do meu pequeno nada fará um milagre!

Todavia, as coisas não são assim tão simples... Para que esse milagre aconteça, para que haja a "multiplicação da vida", é preciso ter a coragem de dar tudo a Jesus. E isso implica fazer renúncias, aceitar sofrimento, ter uma parcela da Cruz. Estou pronta para isso? Ou estarei fadada a viver triste, apenas com "duas mãos e o sentimento do mundo"?

domingo, 1 de janeiro de 2012

Vai ser diferente!

Hoje me perguntaram por que as pessoas dão tanta importância à virada de ano. Confesso que, na hora, não soube o que responder. Por um instante, pareceu-me sem sentido toda essa movimentação em torno do tempo, e toda a esperança que, nesta época, parece se difundir com mais intensidade. Por que tantas listas de promessas, se no dia primeiro continuamos as mesmas pessoas, com os mesmos defeitos?  Por que tanta festa, se mundo não ficou melhor porque a data mudou?

Eu sempre fiz listas com propósitos, e estes foram esquecidos à medida que o ano avançava. O otimismo dissolvia-se na fadiga diária. No fim das contas, nada mudava. Para 2012, por puro descuido, não fiz lista alguma. Entretanto, pensando a respeito de minha vida, especialmente dos acontecimentos do ano pregresso, vi quanta coisa fora de lugar. Uma verdadeira bagunça interior. E tomei uma decisão: vai ser diferente!

Não, não estou tentando me convencer que, de uma hora para outra, vou mudar - à força de palavras. Eu pensava assim, mas percebi que não dava muito certo. Sou muito ligada à "palavra", sempre gostei de me expressar através dela. Mas isso tem seus problemas. Percebi que, de tanto falar e escrever, fazia muito pouco. Obviamente, escrever e fazer não são se excluem, mas no meu caso, achava que escrever o propósito, por exemplo, era meio caminho andado. E não é, por isso que quase nunca dava certo.

Parece bobagem, mas finalmente percebi que a mudança deve ser contínua: as decisões devem ser renovadas  a cada dia, em vez de ficarem aprisionadas em uma lista, fora da realidade. "A cada dia basta seu cuidado", disse Jesus. É assim que quero viver. Não posso mudar tudo de uma vez só (bem que eu gostaria!). A luta deve ser diária. Para sobreviver, a esperança deve dar às mãos à perseverança.

Olhando agora para um calendário, um ano parece muito tempo. Lembrando-me de como 2011 passou rápido, parece um instante. Esse paradoxo se deve, em parte, à agitação de nossa época, mas não posso colocar a culpa na "correria da vida", eximindo-me de qualquer participação nesse fenômeno. Reconheço que perdi muito tempo.

Mas, acredito que vai ser diferente. Não, não quero dizer que vou aproveitar bem este ano. Não. Vou aproveitar bem este dia. Só hoje. Só por hoje, vou amar mais e reclamar menos. Só hoje, vou fazer mais e falar menos. Só hoje vou passar menos tempo no facebook! Afinal, eu não aguentaria  fazer isso por um ano inteiro, mas um dia... É, acho que consigo!

Que Deus abençoe este ano, e que Maria seja nossa companheira nesta caminhada, ensinando-nos a usar bem o tempo precioso que o Senhor nos concede. Feliz Ano Novo!