"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
(Tabacaria, por Álvaro de Campos/Fernando Pessoa)
Fazia tempo que eu não lia um poema. Outro dia, deparei-me com um livro de Fernando Pessoa, comprado à época do vestibular e abri, nostalgicamente. Ele não é meu poeta preferido, mas, em muitas vezes, consigo ver em seus versos um pouco do sentimento que tenho... É claro que nem sempre isso é possível, mas essa poesia me fez pensar...
"Não sou nada". Realmente, o que sou? Quando penso na quantidade de pessoas que habitam e habitaram esse planeta... Quando comparo a longevidade média dos seres humanos com a idade da Terra... Sinto-me tão importante como um grão de areia. Todavia, esse "grãozinho" que sou é único, tem vida; foi criado à "imagem e semelhança de Deus". Apesar de toda a pequenez, há nele uma faísca de eternidade.
"Nunca serei nada". Ah, quantas esse pensamento já me veio à mente! Quando as coisas pareciam não ir muito bem; quando aparecem contrariedades pelo caminho... "Isso nunca vai dar certo" - é uma variante muito comum desse verso! Entretanto, a cada dia tenho a confirmação de que "ser ou não ser" depende muito mais do indivíduo, não dos acontecimentos.
"Não posso querer ser nada". Essa é a questão: para "ser" algo, é preciso querer sê-lo. E querer vai além de suposições e ideais. A vontade se mostra verdadeira quando resulta em movimento rumo à concretização do desejo.
"À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo". Às vezes tenho essa sensação. Um desejo de "mudar o mundo", de fazer a diferença... Bem utópico mesmo, sabe? Ao mesmo tempo, um inconformismo, uma inadaptação... Tantas vezes me sinto um pouco "gauche*" como diz Carlos Drummond de Andrade... Não, não sou anti-social (eu acho)! Pelo contrário, até gosto muito daqui. Mas parece que falta algo.
Ah, entendi! É que além de ter "todos os sonhos do mundo", tenho sonhos de outro mundo... O Ceu!
Por melhor que este mundo venha a ser, sempre haverá uma lacuna não preenchida aqui. Acho que a culpa é da tal "faísca" de eternidade: na Terra, tudo é efêmero; no Ceu, encontreremos a alegria eterna, o dia sem ocaso...
*gauche: palavra francesa - pronuncia-se “goxe” - que significa esquerdo, mas também utilizada para designar estranho, diferente.
PS: a poesia citada no post pode ser encontrada na íntegra aqui: http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.php
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Nada como a luz...
A menina está deitada em seu quarto escuro. Faltou energia e todos em casa dormem. Vultos se projetam... Uma mescla da tímida luz que entra pela janela com a sombra das cortinas e dos móveis. Tudo ao redor parece ameaçador. "Um monstro pode me atacar a qualquer momento" - pensa, enquanto se cobre toda com o lençol.
Ela bem poderia acordar os pais e deitar em sua cama, mas já estava "bem grandinha para isso". Deveria "enfrentar seus medos", foi o que disseram da última vez. Além disso, sabia que estavam cansados, pois trabalharam durante todo o dia. Assim, deveria criar coragem e permanecer ali. Ah, como queria estar como o irmão, que dormia placidamente, a despeito do calor!
Mas não. Para ela, tudo eram sombras. Não conseguia dormir. Então, uma doce recordação lhe veio à mente: o seu Anjo da Guarda. A lembrança desse ser tranquilizou-lhe. E - deve ter sido ele mesmo - que me deu uma ideia genial. Buscar, em seu criado-mudo, uma lanterninha que há muito não usava e lançar luz sobre o que a assustava.
Agora, ela não precisava temer o ataque de monstro ou qualquer outra criatura que se escondesse na escuridão, pois o Anjo estava lá para defendê-la. Assim, lançou luz sobre o maior dos vultos. E o mistério se desfez: viu apenas uma parede, alguns móveis... Nada além do que via todas as noites, iluminada por seu abajour. Direcionou sua lanterna em todas as direções e lá estava o ambiente familiar.
- Nada como a luz para afugentar nossos medos! E isso vale para todas as situações. Nesse caso, foi a lanterna que resolveu... Mas em muitos momentos, precisamos de outro tipo de luz.
- Existe outro tipo de luz? - perguntou uma vozinha jovial.
- Sim... Falo de uma luz que não podemos ver, mas apenas sentir seus efeitos: a luz de Deus. Quando, em qualquer situação vocês sentirem medo, ou não enxergarem uma solução, peçam a ajuda de Deus, peçam que Ele ilumine seus caminhos. E tudo, a seu tempo, começará a se resolver. O que acharam da história de hoje?
- Muito legal, vovó! Conta mais uma!!
- Não, já está tarde. É hora de dormir. Bons sonhos. - respondeu a senhora enquanto beijava seus netos. E saiu.
Caminhou lentamente, até o terraço da casa, onde pode observar o Céu estrelado. Tudo era silêncio. E ela se recordou de uma noite, há muitos e muitos anos, quando faltou luz em sua casa...
...................................................................................................................................
O apagão de ontem teve uma vantagem para mim: veio-me a inspiração para a história acima. O apagão elétrico acabou - espero - com meu apagão de ideias!
Finalizo com uma frase do twitter da Ir. Kelly Patrícia: "Tudo que acontece nos favorece, se a gente não se aborrece e a Deus sempre agradece".
Ela bem poderia acordar os pais e deitar em sua cama, mas já estava "bem grandinha para isso". Deveria "enfrentar seus medos", foi o que disseram da última vez. Além disso, sabia que estavam cansados, pois trabalharam durante todo o dia. Assim, deveria criar coragem e permanecer ali. Ah, como queria estar como o irmão, que dormia placidamente, a despeito do calor!
Mas não. Para ela, tudo eram sombras. Não conseguia dormir. Então, uma doce recordação lhe veio à mente: o seu Anjo da Guarda. A lembrança desse ser tranquilizou-lhe. E - deve ter sido ele mesmo - que me deu uma ideia genial. Buscar, em seu criado-mudo, uma lanterninha que há muito não usava e lançar luz sobre o que a assustava.
Agora, ela não precisava temer o ataque de monstro ou qualquer outra criatura que se escondesse na escuridão, pois o Anjo estava lá para defendê-la. Assim, lançou luz sobre o maior dos vultos. E o mistério se desfez: viu apenas uma parede, alguns móveis... Nada além do que via todas as noites, iluminada por seu abajour. Direcionou sua lanterna em todas as direções e lá estava o ambiente familiar.
- Nada como a luz para afugentar nossos medos! E isso vale para todas as situações. Nesse caso, foi a lanterna que resolveu... Mas em muitos momentos, precisamos de outro tipo de luz.
- Existe outro tipo de luz? - perguntou uma vozinha jovial.
- Sim... Falo de uma luz que não podemos ver, mas apenas sentir seus efeitos: a luz de Deus. Quando, em qualquer situação vocês sentirem medo, ou não enxergarem uma solução, peçam a ajuda de Deus, peçam que Ele ilumine seus caminhos. E tudo, a seu tempo, começará a se resolver. O que acharam da história de hoje?
- Muito legal, vovó! Conta mais uma!!
- Não, já está tarde. É hora de dormir. Bons sonhos. - respondeu a senhora enquanto beijava seus netos. E saiu.
Caminhou lentamente, até o terraço da casa, onde pode observar o Céu estrelado. Tudo era silêncio. E ela se recordou de uma noite, há muitos e muitos anos, quando faltou luz em sua casa...
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O apagão de ontem teve uma vantagem para mim: veio-me a inspiração para a história acima. O apagão elétrico acabou - espero - com meu apagão de ideias!
Finalizo com uma frase do twitter da Ir. Kelly Patrícia: "Tudo que acontece nos favorece, se a gente não se aborrece e a Deus sempre agradece".
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